quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Estamos Bem Mesmo Sem Você


Depois de atuar em quase 40 filmes de cinema e televisão, o italiano Kim Rossi Stewart decidiu dirigir seu próprio trabalho. E acabou realizando uma estréia das mais dignas de nota: Estamos Bem Mesmo Sem Você , sensível drama familiar que honra as tradições do sempre poético e emotivo cinema italiano. Com direito a pitadas de neo-realismo. Simples e tocante, a trama é desenvolvida por meio do ponto de vista de Tommy (o estreante Alessandro Morace), garoto de 11 anos que vive com seu pai Renato (interpretado pelo próprio diretor) e a irmã Viola (Marta Nobili, também estreante). Este pequeno núcleo familiar – assim como tantos outros – vive entre tapas e beijos. O pai, italianíssimo, alterna em curtíssimos espaços de tempo os mais carinhosos afagos às mais explosivas reações raivosas. Os irmãos se mostram cúmplices ou competidores, de acordo com cada circunstância. O dinheiro é pouco, a união é forte. Num primeiro momento, omite-se de forma proposital qual teria sido o destino da suposta mãe desta família. A presença (ou ausência) materna é, porém, o elemento explosivo que detona finalmente o forte direcionamento dramático pelo qual o filme passa. O estilo de lembrar o trabalho de Nani Moretti, premiado cineasta de Caro Diário e O Quarto do Filho . Ou seja, os méritos da obra são focados no intimismo, no poder das relações familiares, nas dúvidas e hesitações de quem se percebe chefe de família e em todas as responsabilidades que isso traz. É um cinema fortemente emocional, psicológico, que tem na própria vida o seu maior “efeito especial”. E que nem por isso deixa o bom humor de lado (há uma ótima cena envolvendo um camelo...). Talvez não seja propriamente uma história autobiográfica, mas Stewart fez questão de filmar as cenas da escola exatamente no colégio que freqüentava quando era menino. Por outro lado, não era intenção do diretor fazer o papel principal. Ele foi praticamente forçado a isso quando Renato Benetti, o ator originalmente escalado, pulou fora do projeto a apenas duas semanas das filmagens. Percalços a parte, o filme obteve várias premiações italianas e internacionais, incluindo Melhor Direção em Copenhagen, Melhor Diretor estreante no David di Donatello (o Oscar italiano) e Prêmio Especial do Júri na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Uma última informação: o título original do filme – que só se compreende após a última frase do roteiro – é uma preciosidade.
Este filme não será lançado em DVD no Brasil, e ficará somente durante duas semanas. Um filme genial e imperdível, que você jamais terá a oportunidade de ver, sem ser no Cine Praia Grande.
De 30 de Outubro a 12 de Novembro em cartaz no Cine Praia Grande.A seguir: Na Cama, um filme genial e muito intrigante.
Sessões : 16hs , 18hs e 20hs

terça-feira, 13 de outubro de 2009

A Útima Amante em cartaz no Cine Praia Grande

A Última Amante
Catherine Breillat chamou a atenção do mundo do cinema em 1999, com o forte e polêmico Romance. Desde então, reforçou sua já conhecida ligação com temas relacionados ao sexo, libertação sexual e afins, já sendo considerada uma das melhores diretoras do cinema moderno. Seu filme mais recente, A Última Amante, traz tudo isso, relacionado e ambientado na aristocracia francesa do século XIX. A literatura da época nos mostra que as traições, intrigas e segredos eram comuns à época. Alguns vão lembrar-se de Ligações Perigosas - inclusive, o autor do livro, Chorderos de Laclos, é citado em um diálogo entre duas matronas que discutem se o casamento entre um libertino e a "flor da aristocracia parisiense" é mesmo recomendado.Este é um dos filmes mais leves, mas melhores, da cineasta francesa, o que não o impede de causar algum desconforto em muitos. A caracterização dos personagens é excelente, prova de que Breillat é capaz de extrair muito dos seus atores. Por incrível que pareça, é justamente a protagonista Asia Argento, uma italiana que passeia entre produções cult e filmes hollywoodianos, que aparentemente não dá tudo de si. Sua interpretação é forte e poderosa mas, face a outros papéis da atriz, parece um pouco contida. Mas isso é equilibrado pela ótima performance do francês Fu'ad Ait Aattou, um achado. Sem outras aparições, o rapaz de feições andróginas veste bem o papel do conquistador barato - comparado a Don Juan - que encontra na inocente Hermangarde, um bom papel da pouco conhecida Roxane Mesquida, sua chance de, afinal, conquistar uma posição social. As duas matronas já citadas, Claudde Serrate e Yolande Morreau, junto com o também veterano Michael Lonsdale, completam o elenco com boa desenvoltura.Ousada na forma de filmar, este é o filme mais caro da diretora. Isso deu a ela a liberdade de produzir uma direção de arte primorosa, com peças reais, iluminação eficiente e tudo o necessário para uma ambientação excelente. Para contrapor essa opulência, há várias cenas com nada de trilha sonora, e a maior parte dos diálogos é apenas sussurada - aumentando a sensação de que tudo o que é dito é segredo. Indicado à Palma de Ouro em Cannes, o filme foi ignorado por muitos outros festivais importantes, incluindo o Cesar francês. Uma pena. Aqui no Brasil, no sempre restrito circuito alternativo, torna-se apenas uma curiosidade para a maioria. Mas quem tiver a chance de assisti-lo, e estiver pronto a aceitar uma linguagem diferente, não irá se arrepender.
O aguardado casamento entre o bon vivant Ryno de Marigny (Fu ad Ait Aattou) com a aristocrata e frágil Hermangarde (Roxane Mesquida) traz consigo uma dúvida: conseguirá o jovem romper com a amante Vellini (Asia Argento), uma cortesã conhecida por não deixar os homens em paz? Catherine Breillat é uma diretora chegada num escândalo. Já com seu primeiro filme, Uma Adolescente de Verdade, de 1976 (mas que entrou em circuito brasileiro somente nos anos 2000), ela chocava platéias do circuito de arte com cenas de sexo explícito envolvendo a adolescente rebelde do título. Com Romance, de 1996, voltou a escandalizar mostrando o pênis ereto de Rocco Sifredi, famoso ator pornô italiano, e algumas cenas quentes de sexo, envolvendo o garanhão e uma protagonista tagarela. Em Para Minha Irmã (2001), o último filme da diretora a entrar em circuito comercial no Brasil, o choque já não estava no sexo, mas num rompante violento que mudava o curso das coisas. Durante o hiato, o cinema de Breillat compareceu em festivais brasileiros com Breve Travessia, seu único grande filme - infelizmente ainda inédito no circuito ou em DVD - e Anatomia do Inferno, no qual voltou a usar Rocco Sifredi para provocar o choque e foi mais feliz que em Romance, escandalizando um público pouco acostumado às suas relações entre sexo e poder. Ela agora está de volta ao circuito nacional com um filme de época, A Última Amante, e conta com a sensualidade de Asia Argento como principal chamariz. Como a diretora se sai dirigindo uma trama passada na França do século 19? Apagando as tatuagens da atriz digitalmente. Um efeito tosco, dá para dizer, já que quem conhece as tatuagens pode perceber algum sinal delas em seu corpo. É pouco, convenhamos, para uma cineasta disposta a chacoalhar o espectador pelo incômodo. Quem esperava mais efeitos chocantes tem de se contentar com cenas pudicas de sexo, que hoje em dia até a novela das oito (ou melhor, das nove) ameaça ultrapassar em ousadia. Mas estaria só na possibilidade do choque o interesse despertado pelo cinema da diretora? Até que ponto sua carreira seria dependente de suas agressões ao bom gosto? O que aparenta é que Breillat se intimidou com os figurinos e preferiu recolher o pito, temerosa de mexer em vespeiro com material alheio - A Última Amante é uma adaptação do romance de Jules-Amédée Barbey d Aurevilly, escrito em 1851, e Breillat está mais acostumada a dirigir histórias criadas por ela mesma. Muitos diretores ousaram desafiar regras em filmes históricos. O aristocrata Luchino Visconti ( Morte em Veneza ), por exemplo, mostra penicos usados e nobres suando horrores em seu majestoso O Leopardo - algo pouco comum até hoje. Mais recentemente, Sofia Coppola recheou seu Maria Antonieta de canções new wave e pós- punk , com um efeito bem curioso. Catherine Breillat, logo ela, parece sucumbir ao peso da produção e realiza um correto romance de época, com fotografia mais cuidada que o habitual e um cuidado iconográfico especial. Para uma autora sempre ousada e intrigante como Breillat, ser correto é a pior coisa que se pode dizer sobre seu filme. E a ironia maior é que muita gente que torcia o nariz pode se encantar com as pompas, mas estará comprando uma falsa idéia do que é o seu cinema. De 16 a 29 de Outubro no Cine Praia Grande.
A seguir:Estamos bem mesmo sem você. Este filme não será lançado em DVD no Brasil, e ficará somente durante duas semanas . Um filme genial e imperdível, que você jamais terá a oportunidade de ver, sem ser no Cine Praia Grande.
Sessões : 16hs , 18hs e 20hs

Informações Técnicas
Título no Brasil: AÚltima Amante
Título Original: Une vieille maîtresse
País de Origem: França / Itália
Gênero: Drama
Classificação etária: 14 anos
Tempo de Duração: 114 minutos
Ano de Lançamento: 2008
Estúdio/Distrib.: Filmes do Estação
Direção: Catherine Breillat

Sinopse
Na mundana Paris do século 19, só se fala no casamento do jovem libertino Ryno de Marigny (Fu'ad Ait Aattou) com a bela e pura Hermangarde (Roxane Mesquida), uma flor da aristocracia. Os noivos se amam, porém as más línguas insinuam que Ryno não vai conseguir romper um antigo romance com Vellini (Asia Argento), uma cortesã escandalosa, filha de uma duquesa com um toureador.